terça-feira, 29 de abril de 2014

Conhecimento tradicional atravessa gerações de mulheres na Amazônia


"No mercado Ver-o-Peso, em Belém , turistas de todo lugar chegam atraídos pelas cores, perfumes e sabores das frutas, peixes, pimentas e ervas que vêm da Amazônia. Figuras populares, as vendedoras de ervas conquistaram seu espaço no mercado e na cultura paraense comercializando os segredos da floresta, sob forma de pomadas, banhos, “garrafadas” e atrativos que garantem o amor e a boa sorte.O conhecimento tradicional que tem como laboratório os quintais das casas é marcante entre as populações indígenas, caboclas e quilombolas da região, e tem nas mulheres as figuras centrais na permanência desse legado.

“O trabalho com as ervas é considerado uma atividade essencialmente, em sua maioria feminina até porque isso se dá no espaço doméstico, nos quintais agroflorestais, ambiente que elas dominam e onde fazem o cultivo e a coleta. Na Amazônia, assim como em outras culturas, historicamente, às mulheres não é delegada a pesca ou caça; a elas cabe a função coletora”, pontua a professora Denise Cardoso, do programa de pós-graduação em Ciências Sociais da Universidade Federal do Pará (UFPA) e uma das coordenadoras do “NósMulheres”, grupo de pesquisa que se dedica a estudos de gênero.

"Muitas clientes procuram as erveiras porque buscam ser ouvidas, buscam a empatia, sabem que quem as ouve é capaz de se colocar no lugar delas e assim ajudá-las a solucionar um problema, através dos banhos, das poções"
— Denise Cardoso, cientista social

De acordo com a pesquisadora, embora os homens também exerçam o trabalho, seja como erveiros ou benzedores, as mulheres acabam agregando um diferencial em suas vendas: a sensibilidade.
Tradição que se aprende em casa 
Aos 27 anos, Simone Souza é uma das mais jovens vendedoras de ervas do mercado do Ver-o-Peso. A barraca estampa o nome da mãe, Sueli, com quem aprendeu os nomes de cada uma ervas, assim como os seus usos.

“Desde mocinha me interessei pelo trabalho da minha mãe, via como ela fazia as misturas, o que usava, e tudo a gente vai aprendendo de boca, assim como ela aprendeu com a minha vó, que já entendia e mexia com as ervas quando ainda morava no interior. Às vezes eu vinha acompanhar minha mãe no Ver-o-Peso, porque também estudava, mas há quatro anos estou exclusivamente atendendo a freguesia”, conta.

Além da barraca, Simone também herdou da mãe a clientela, que garante confiar nos conhecimentos da erveira que convida o público para o seu ponto com um sorriso tão farto quanto os itens à venda no pequeno espaço.
“Cheguei aqui por indicação de uma tia rezadeira que tenho, e conheci o trabalho da Dona Sueli, que só me trouxe benefícios com os mais variados problemas que já tive. Até que ela ‘passou o bastão’ para a Simone, que tem a mesma competência e muita sabedoria sobre esse mundo dos chás, das raízes, das coisas da terra”, relata a carioca Luciana Miranda, de 36 anos, que há 13 anos reside no Pará."
Fonte: G1 - Globo


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